Por Wilson Guerra

Dia 16 de junho, durante a realização da Conferência Global de Pesquisa Espacial (GLEX2021) em São Petersburgo na Rússia, representantes dos programas espaciais da China e da Rússia anunciaram um cronograma detalhado para a construção da Estação Lunar Científica Internacional (ILRS). A estação será uma base de pesquisas em solo lunar, mas contará com uma estação orbital de suporte. O plano apresentado orientará a colaboração das duas potências espaciais no desenvolvimento no projeto.  Foi destacado que a ILRS está aberta para novos integrantes, como agências espaciais de outros países e empresas do setor aeroespacial.

Wu Yanhua, vice-chefe da Agência Espacial da China (CNSA), expôs a intrincada logística do programa, incluindo as instalações e transportes para a estação.

Os objetivos científicos da ILRS são:
– estudo da topografia, geomorfologia e estrutura geológica lunares;
– estrutura interna da Lua;
– reconhecimento do ambiente lunar;
– realização de observações astronômicas a partir de solo lunar;
– observação e estudos da Terra baseadas em instalações lunares;
– realização de experimentos biológicos em médicos no ambiente lunar;
– mapeamento de recursos disponíveis na Lua e sua utilização/aplicação “in-situ”.

Fases

A primeira etapa do ILRS vai deste ano até 2025. Envolverá a coleta de dados e a verificação de pousos de alta precisão.

Estão recrutadas para esta etapa as missões robóticas da China Chang’e-4, Chang’e-6 e Chang’e-7 e as russas Luna25, Luna 26 e Luna 27. Os foguetes lançadores a serem usados para estas missões serão os Longa Marcha 3B, Longa Marcha 5 e Longa Marcha 5B (fornecidos pela CNSA) e as várias configurações do Soyuz (fornecidos pela Roscosmos). Futuros novos membros poderão contribuir com mais missões e outros veículos lançadores.

A segunda etapa vai de 2026 a 2035. Envolverá atividades de entrega de cargas, novas tecnologias serão testadas e comissionadas e serão realizadas atividades de retorno de amostras da Lua para a Terra de forma automática.

As missões já confirmadas nesta segunda fase são a Chang’e-8 (China) e a Luna28 (Rússia), além de possíveis missões de novos membro do projeto que podem ser definidos até lá. Os veículos lançadores usados nesta etapa incluem foguetes de classe pesada, como o Longa Marcha 5 da China e versões mais potentes do foguete russo Angara, atualmente em desenvolvimento.

É nesta etapa que terão início de operações conjuntas e os pousos lunares tripulados. Pelo menos cinco missões tripuladas serão realizadas, nomeadas sob as siglas ILRS-1, ILRS-2, ILRS-3, ILRS-4 E ILRS-5. Cada missão tem um conjunto de objetivos prioritários:
ILRS-1: estabelecer um centro de comando, fontes de energia, instalações de telecomunicação, e infraestrutura para operações autônomas e de pesquisa de longa duração.
ILRS-2: estabelecer instalações de pesquisa.
ILRS-3: estabelecer infraestrutura pra utilização de recursos do local.
ILRS-4: testar as tecnologias instaladas, iniciar pesquisas e experimentos biomédicos, reconhecer e coletar amostras lunares e retorná-las à Terra.
ILRS-5: estabelecer estrutura para pesquisas em Astronomia e observação da Terra a partir da Lua.

A terceira e última etapa do projeto será executada a partir de 2036: é a base efetivamente operacional.

A localização definitiva da ILRS será determinada ainda na primeira fase, com as missões de reconhecimento, até 2025. Um local possível da ILRS seria a próxima da cratera Amundsen, de 103,4 km de diâmetro, nos arredores do pólo Sul. A região é semelhante àquela estudada pelo programa lunar Artemis dos Estados Unidos, devido a existência de água sob forma de gelo na área. O Programa Artemis foi apresentado em 2017 pela Nasa com a missão de retornar astronautas à Lua, especificamente na região polar Sul, a partir de 2024.

Possíveis locais para a construção da ILRS. A cratera Amundsen, na região polar Sul, ainda é o mais provável.

Os recursos financeiros para a ILRS já estão disponíveis dentro dos prazos delineados pelo roteiro apresentado.

Cooperação internacional

Já ocorreram discussões com a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Francesa (CNES). Wu Yanhua observou, no entanto, que as negociações ainda estão em um estágio preliminar.

Fontes:
CGTN – https://newseu.cgtn.com/news/2021-06-17/China-and-Russia-to-team-up-on-international-moon-base-119jbPulQCA/index.html
CNSA – www.cnsa.gov.cn/english/n6465652/n6465653/c6812150/content.html